Níquel na Bahia – o mercado não perdoa

Geólogo e Diretor Técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM)
Costumo lembrar a quem me procura, na Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) querendo investir em mineração, que este é um setor de risco imenso, alto investimento e, portanto, para profissionais e, no caso específico de minerais metálicos, para grandes investidores, os chamados "cachorros grandes". Quem é do ramo sabe que se trata de um setor sujeito fortemente a ciclos e que os períodos de baixa são maiores do que os de alta e que investir em mineração é sempre para longo prazo.
Não há espaço para imediatismo, nem para amadores, pois o mercado de commodities geralmente não perdoa. O mais recente exemplo disso está no níquel de Itagibá, um empreendimento em áreas da CBPM, estruturado dentro do melhor padrão mundial e que atualmente sofre com os rumores do mercado mundial.
Os primeiros registros da existência de níquel na região de Itagibá foram constatados entre 1979 e 1981 pela Mineração Nhambu, que identificou anomalias de cobre e níquel em amostras de solo, mas que não deu continuidade à pesquisa mineral. Em 1985, a Caraíba Metais reiniciou os trabalhos, buscando mineralizações de cobre e encontrou, num programa de sondagem exploratória, concentrações disseminadas de sulfetos de níquel, com teor médio de 0,5%, desistindo, contudo, das áreas, pois seu foco era cobre.
Em 1989, quando estive pela primeira vez como diretor técnico da CBPM, requeremos essas áreas e recomeçamos as pesquisas, com ênfase para níquel, no corpo intrusivo da Fazenda Mirabela. Foram desenvolvidos, na ocasião, programas diversos de pesquisa mineral, quando, finalmente, em 2000, foi definido recursos da ordem de 43,8 milhões de toneladas de níquel laterítico e 18 milhões de toneladas de minério sulfetado.
Em 2003, a CBPM fez uma licitação para arrendar os 17 direitos minerários da área pesquisada, cuja vencedora foi a empresa australiana Canyon Mineração do Brasil, sucedida, em 2008, pela Mirabela Mineração do Brasil Ltda., que deu prosseguimento às pesquisas, consolidando uma reserva de mais de 160 milhões de toneladas de níquel sulfetado, num investimento de 880 milhões de dólares, com geração de mais de 600 empregos diretos e royalties de 2,52 % para a CBPM, transformando essas áreas em uma mina de classe mundial.
Sem dúvida, o projeto Níquel de Itagibá foi o resultado da persistência da CBPM em acreditar nas possibilidades de transformar o que eram concentrações disseminadas de sulfetos de níquel em uma jazida e, posteriormente, em uma mina. Foram necessários 20 anos, entre o início das pesquisas pela CBPM e a primeira produção de concentrado de níquel, ocorrida em dezembro de 2009, quando a mina foi inaugurada. A pretensão inicial era produzir 140 mil toneladas de concentrado de níquel em 2010, meta esta, posteriormente, redimensionada para 80 mil toneladas/ano.
Como a inauguração da mina se deu em pleno Boom Mineral, com o preço do níquel variando em torno de 25 mil dólares a tonelada, tudo corria às mil maravilhas e as pequenas falhas, decorrente da falta de experiência de uma empresa junior, eram facilmente absorvidas. Afinal, a Mirabela havia se consolidado num período em que a mineração estava num dos raros superciclos, onde o importante era produzir o máximo e o mais rápido possível, pois havia demanda para tal.
Com o começo da queda dos preços do níquel, algumas providências tiveram que ser tomadas, como a modificação do controle acionário, no final de 2010, o que provocou a reestruturação da Mirabela, com uma redução de custos e de cerca de 10% do seu pessoal, nas funções de direção e de gerenciamento, além de empréstimos complementares para refinanciamento da dívida e uma reengenharia financeira, feita para que a empresa pudesse cumprir com todos os seus compromissos.
Infelizmente em 2016, no ápice da desaceleração econômica mundial, a situação ficou complicada. O preço do níquel despencou para menos de nove mil dólares a tonelada e o custo de produção, mesmo com todas as modificações realizadas, não foi suficiente para manter toda a planta funcionando. A queda do preço do níquel em 2015 foi um grande abalo para as minas de médio porte e deveu-se à desaceleração da China, maior consumidor do mundo. Outro fator indutor dessa queda foi o aumento dos estoques chineses de bens minerais, principalmente do níquel.
Tudo que estava ao alcance do Estado da Bahia, em termos de apoio, foi viabilizado para a empresa se manter em atividade, tais como liberação de créditos do ICMS, inclusão da mesma no Programa Desenvolve e o parcelamento dos débitos com a CBPM em termos de royalties, mas, infelizmente, a questão preço x custo de produção não foi ainda solucionada. Foi necessário, então, dar aviso prévio aos trabalhadores, mantendo o mínimo de sua capacidade em funcionamento, à espera do fechamento de um novo contrato de vendas, mais compatível com os custos de produção. A solução temporária encontrada para manter parcialmente a mina em produção é a comercialização do níquel laterítico, cujo custo de extração é bem mais baixo.
Verifica-se, desta forma, que em tempos de vacas magras, mesmo uma empresa modelo como a Mirabela, por ser de médio porte, dificilmente sobrevive com a queda dos preços das commodities, e isso vem ocorrendo em todo o Brasil, onde minas de níquel, como as de Niquelândia em Goiás e Fortaleza de Minas (MG), da Votorantim Metais, tiveram sua produção suspensa no final de 2015.
Na realidade, o setor mineral está voltando aos poucos à sua normalidade, devendo crescer, no entanto, dentro das taxas históricas de preços e, quem é do ramo, deve se preparar para um novo ciclo, que só virá à médio prazo e que dificilmente voltará a ser um superciclo. Nesse sentido, todos os esforços do governo da Bahia são válidos para manter a Mina Mirabela produzindo, sendo essa uma meta primordial de todos os envolvidos no setor mineral baiano.