Nasce um player global

Largo inaugura a primeira planta para produção de vanádio das Américas com baixo custo operacional e um concentrado com maior teor de minério do mundo.

A partir deste ano, os grandes produtores mundiais de vanádio – minério utilizado em ligas metálicas de alta resistência – ganham um concorrente de peso. Com investimentos de R$ 555 milhões, a canadense Largo Resources iniciou, em maio, as operações da Vanádio de Maracás S.A. (VMSA), que coloca o Brasil na disputa pelo mercado global desse minério com os tradicionais produtores da África do Sul, China e Rússia. “Queremos transformar essa operação em referência na produção de vanádio, assim como a CBMM é no mercado mundial de nióbio”, afirma Mark Brennan, CEO e presidente da Largo.

A comparação com a CBMM não se deve apenas ao fato de o vanádio concorrer com o nióbio em algumas aplicações, mas também é uma referência ao grande potencial da reserva da VMSA e ao foco no controle de todo o processo para os ganhos de competitividade. Os dois tipos de minérios encontram aplicação no reforço de ligas de ferro, mas Les Ford, vice-presidente de operações da Largo no Brasil, ressalta que o vanádio  apresenta inúmeras vantagens na produção de vergalhões para construção civil, fuselagem de aeronaves e outras aplicações. “Além disso, nossa reserva apresenta o mais alto teor do mundo, de 1,34% de pentóxido de vanádio (V2O5)”, diz ele.

Localizada em Maracás (BA), a mineradora inicia as operações com uma produção de 9,5 mil t/ano de V2O5, o equivalente a 7% do consumo global. “Existem poucas instalações de processamento de minérios vanadíferos no mundo e a nossa é a mais moderna”, comemora Kurt Menchen, presidente da Largo no Brasil. Na ótica dos consumidores, o projeto traz estabilidade ao mercado mundial, já que a China consome boa parte da sua produção e a instabilidade política no Leste europeu desperta preocupações quanto ao fornecimento da Rússia.Tanto que os seis primeiros anos de produção da empresa já foram comercializados para a trading de commodities Glencore.

Projeto para 100 anos

Segundo Kurt Menchen, em dois anos a empresa pretende ampliar a capacidade instalada em 50% e, a partir de 2017, deverá iniciar a produção de liga de ferro vanádio, agregando valor ao produto. Isso porque o pentóxido de vanádio, que sai da usina de processamento em flocos, é utilizado para a produção do ferroliga utilizado nos fornos siderúrgicos para a fabricação de aços especiais. “Quando atingirmos a estabilização do processo e dos equipamentos, partimos para o projeto de expansão.”

Isso é possível devido ao fato de que, além do vanádio, que vem contido numa magnetita titanoferrosa, a reserva apresenta ocorrência de minério de ferro, platina e ilmenita. Esses subprodutos, obviamente, são obtidos como ganho marginal. A reserva da VMSA totaliza 13,8 milhões t, entre recursos provados e inferidos, que conferem à mina uma vida útil de 29 anos. Mas Menchen avalia que a operação se estenderá por mais de 100 anos em função das pesquisas de exploração. “Essa região apresenta anomalias magnéticas intensivas e já requeremos licenças para pesquisa.”

A operação de lavra, relativamente simples, ocorre em mina a céu aberto, com a realização do desmonte de rocha por perfuração e explosão. A produção de ROM nessa etapa inicial está prevista em 1,080 milhão de t/mês, sendo que a relação estéril/minério é de 1 para 2,03. Como a VMSA não opera com os elevados volumes típicos da grande mineração, o carregamento emprega escavadeiras da classe de 30 t e o transporte até a usina de beneficiamento é realizado por caminhões rodoviários de 30 t de capacidade. Atualmente, ela conta com quatro veículos e outros três chegarão em breve, para permitir que a mina trabalhe em regi-me de 24 horas por dia e sete dias por semana.

Baixo custo

A Vanádio de Maracás aposta na sua vantagem competitiva em função de uma combinação entre o teor de seu produto, que apresenta a mais alta concentração do minério no mundo, e a tecnologia empregada para seu processamento. Na usina de beneficiamento, o minério passa por diversas etapas, envolvendo britagem, separação magnética e filtragem, calcinação, remoagem e lixiviação, remoção de sílica, precipitação, secagem, remoção de amônia e fusão em forno, até resultar no produto final, o V2O5 em forma de flocos.

Segundo Kurt Menchen, o minério apresenta baixo teor de sílica, o que aumenta a taxa de recuperação do processo e reduz os custos da operação. Nesse quesito, aliás, o destaque fica para a adoção de inovações tecnológicas, como a utilização de um forno rotatório de 90 m de comprimento, considerado o mais moderno do mundo em mineração de vanádio. “Com isso, operamos comum custo de 60% dos principais produtores internacionais, na faixa de US$ 2,8 por peso libra de V2O5”, diz ele.

Outra inovação é o sistema utilizado para a disposição de rejeitos, por empilhamento a seco, que elimina a barragem de rejeitos. O sistema consiste na filtragem do rejeito, até se atingir umidade de 10%, e na deposição desse material em áreas menores e previamente preparadas, que recebem posteriormente camadas do estéril, antes do trata-mento final. “Com isso, eliminamos a barragem de rejeitos, que é um passivo ambiental eterno, e reduzimos o consumo de água no processo de 250 m3/h para 70 m3/h”, conclui Menchen.

Fonte: Revista In The Mine – (abril/maio de 2014)

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