Mirabela, uma vitória da garra baiana
A inauguração da Mina de Níquel de Itagibá – Bahia é o que nós podemos classificar como uma vitória da persistência e da garra geológica baiana, notadamente do corpo técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM.
Estava como diretor técnico da empresa, no Governo Waldir Pires, em 1988, quando pela primeira vez ouvi falar da potencialidade mineral dessas áreas, e, igualmente como ocorreu com o ferro de Caetité, nós acreditamos. A diferença está apenas no tempo de maturação, pois se passaram mais de vinte anos, desde o início das primeiras pesquisas.
Considerado o estado mais bem estudado geologicamente do País, a Bahia tem gerado oportunidades e recebido investimentos estrangeiros no setor de mineração. Sistemáticos levantamentos e pesquisas de recursos minerais do estado são desenvolvidos pela CBPM, com a finalidade de atrair investimentos da iniciativa privada em território baiano.
Frutos dessas atividades, entre outras, são as jazidas de vanádio de Maracás, ouro de Itapicuru e o níquel de Itagibá, as quais representam um marco da contribuição da CBPM no exercício de suas atividades de pesquisa e exploração mineral, e do cumprimento de sua missão como uma empresa de desenvolvimento mineral.
No caso do níquel, tudo começou entre 1979 e 1981 com as pesquisas iniciadas pela Mineração Nhambu, uma joint venture que desenvolveu um programa de exploração mineral na região em busca de mineralizações de metais básicos e preciosos, particularmente ouro e cromo.
Através desse programa de exploração desenvolvido identificou-se os primeiros registros do corpo magmático intrusivo máfico-ultramáfico da Fazenda Mirabela, que hospeda os atuais depósitos de níquel de Itagibá, considerados, na época, de pouca significação para ouro e cromo.
Em 1985, quatro anos após a atuação da Mineração Nhambu, a Caraíba Metais S/A retomou os trabalhos de pesquisa na região, objetivando mineralizações de cobre, níquel e metais do grupo da platina. As investigações realizadas pela Caraíba, numa porção restrita da área, confirmaram os registros anômalos de cobre e níquel. Porém, por motivos operacionais e de mercado, a empresa desistiu das áreas. Em meados de 1988, após negociação entre as duas diretorias, a CBPM requereu as áreas para novas pesquisas.
Foi então que, a partir de julho de 1989, a CBPM retomou as atividades de pesquisa no âmbito do corpo intrusivo da fazenda Mirabela, mantendo até hoje a sua titularidade, que junto com outros requerimentos, totalizam 19 concessões minerárias que a empresa detém na região.
Durante mais de dez anos foi desenvolvida toda uma sequência de investigações geológicas, geoquímicas, geofísicas e de sondagem exploratória, culminando, em 2000, com a descoberta do depósito de níquel laterítico, atualmente denominado Serra Azul, localizado no núcleo ultramáfico do corpo intrusivo, com recurso inferido de 44 milhões de toneladas de minério laterítico, com 1% de níquel.
Nessa ocasião confirmou-se a existência de uma zona bem definida, com concentrações disseminadas de sulfetos de níquel e de cobre, com recursos inferidos de mais de 18 milhões de toneladas de minério sulfetado, com 0,50% Ni, 0,20% Cu e 0,35 g/t de platina + paládio. Estas concentrações disseminadas de sulfetos constituem o atual depósito de níquel Santa Rita.
Após a identificação das mineralizações de níquel laterítico e de níquel sulfetado a CBPM, como é de praxe em sua filosofia de trabalho, promoveu a divulgação dos seus dados, buscando atrair empresas e investidores do setor para assumirem a continuidade das pesquisas e dos investimentos necessários para viabilizar o aproveitamento econômico desses depósitos.
Fruto dessa ação é que várias empresas do setor, algumas gigantes como Phelps Dodge, Falconbridge, Inco e Votorantim, tiveram acesso aos dados e/ou visitaram as áreas dos depósitos. A maioria delas manifestou desinteresse pelos depósitos, sob a alegação de que não exibiam possibilidades de conterem volumes de reservas economicamente atrativos.
Somente em 2002, o investidor australiano Bill Clough, vinculado ao grupo australiano Mitchel River Group, após ter acesso aos dados e visitar a área dos depósitos, considerou que os mesmos eram atrativos e manifestou o seu interesse de assumir o projeto e os investimentos necessários para prosseguir as investigações e implantação do empreendimento mínero-industrial voltado para a explotação, processamento, produção e comercialização de concentrado de níquel nos depósitos.
Em 2003, após ter vencido o processo licitatório, a Mirabela Mineração do Brasil Ltda., assumiu o Projeto Níquel de Itagibá, iniciando os trabalhos de pesquisa complementar. Após cinco anos de trabalhos executados com persistência, seriedade e excelência técnica, a Bahia ganha a terceira maior mina a céu aberto do mundo, dando uma demonstração da competência e da garra dos geólogos da CBPM, que durante todo esse período acreditou nesse projeto, que vai colocar a Bahia como o segundo estado brasileiro em produção de níquel e que dará, em pouco tempo, a auto-suficência técnico/administrativa à empresa.
Quando em plena operação, o complexo mínero-industrial de Mirabela – que atualmente ostenta uma reserva superior a 130 milhões de toneladas -, absorverá cerca de 2.000 postos de trabalhos, sendo aproximadamente 500 empregos diretos, e 1.500 indiretos.
Aliado a estes dados favoráveis, a CBPM e a Mirabela estão estudando a viabilidade de se implantar uma indústria de transformação do minério de níquel em produto final nos municípios de Ipiaú ou Itagibá, permitindo a auto-sustentabilidade econômica dos mesmos, além de agregar valor ao níquel baiano.
O níquel é um metal importante para a formação de ligas de ferro e aços especiais como o inoxidável (inox), amplamente utilizado na fabricação de utensílios domésticos e instrumentos cirúrgicos. Para diminuir o impacto ambiental na região estão sendo elaborados programas sócioambientais e implantados projetos de preservação do ecossistema local.
A produção anual prevista girará em torno de 207 mil toneladas de concentrado de minério, com 13% Ni, 4% Cu, 0,2% Co, gerando uma produção ano de aproximadamente 27 mil toneladas de níquel, 8 mil toneladas de cobre e 400 toneladas de cobalto, que irá deslocar a Bahia da posição de estado não produtor para o segundo maior produtor de níquel no Brasil e irá provocar um aumento de aproximadamente 30% da produção brasileira de níquel, além de uma receita bruta de vendas de 600 milhões de reais/ano (acréscimo de aproximado de 35% no valor da produção mineral baiana), com uma arrecadação de ICMS de mais de R$ 60 milhões/ano e da CFEM de mais de R$ 5 milhões/ano. Para a CBPM a previsão é de uma arrecadação de mais de R$ 15 milhões/ano em termos de royalties.
Tudo isto é um marco da contribuição do estado e da CBPM no exercício de suas atividades de pesquisa e exploração mineral e do cumprimento de sua missão como uma empresa de desenvolvimento mineral. Portanto, estão de parabéns todos aqueles que, direta ou indiretamente participaram dessa monumental descoberta.
Fonte: Rafael Avena Neto
Diretor Técnico da CBPM