Com queda no preço do níquel, Votorantim suspende produção
Por Ivo Ribeiro
Diante da contínua queda dos preços do níquel no mercado internacional, a Votorantim Metais (VM), holding de negócios de metais não ferrosos e mineração do grupo Votorantim decidiu suspender, a partir de fevereiro, a produção do metal. A iniciativa abrange suas operações de mineração e beneficiamento em Niquelândia (GO) e de metalurgia no bairro de São Miguel Paulista, na cidade de São Paulo.
A paralisação, por tempo indeterminado, tira do mercado uma capacidade de produção de 25 mil toneladas por ano de níquel eletrolítico (metal com alta pureza). A atividade integrada à VM faz a extração do minério e sua transformação em concentrado em Niquelândia e obtém a níquel em sua refinaria na unidade industrial paulista.
Serão afetados cerca de 1.250 trabalhadores, 900 empregados em Goiás e 350 em São Paulo. Do total, 85% (1060) serão demitidos e 15% serão mantidos para fazer manutenção das instalações. Conforme apurou o Valor Econômico, a decisão é decorrente da forte queda de preço do metal na Bolsa de Londres (LME), caindo a um patamar insustentável para manter a produção.
A empresa começou a avaliar essa possibilidade no quarto trimestre e decidiu de vez na semana passada. Segundo informação de fontes, a VM não vê perspectivas de reversão do cenário de preços do níquel no curto prazo até o fim deste ano. Por isso, a decisão de desligar boa parte da força de trabalho. A empresa já negocia pacote de benefícios com os sindicatos de trabalhadores e tem dito que manterá programas sociais, como escolas, centros de treinamento e outras ações.
Ontem (18), a cotação do níquel na LME fechou em US$ 8,45 mil a tonelada, depois de ter fechado o ano passado a US$ 8,1 mil. A avaliação é que esse valor está longe do ponto de equilíbrio para gerar alguma margem de ganho. Grande parte desse setor apontava alguns meses atrás, como valor de conforto para as operações, a faixa de US$ 15 mil a US$ 16 mil a tonelada. Segundo uma fonte especializada no setor, a maioria das produtoras vem operando com margens negativas nos últimos trimestres.
Apenas unidades da Vale, no Canadá e Indonésia, da russa Norilsk (que tem a platina como subproduto) e da Xtrata/Glencore, no Canadá, ainda conseguem operar com margens positivas. Um dos fatores da queda do preço do níquel é o excesso de oferta no mercado mundial, principalmente por parte da China, com produção acima de 200 mil toneladas de gusa de níquel material de qualidade inferior que é aplicado em grande parte na fabricação de aço inox.
O negócio níquel da Votorantim, que teve receita de R$ 287 milhões no terceiro trimestre, conforme balanço da holding Votorantim Industrial, teve um prejuízo de R$ 414 milhões naquele período. A produção somou 5,9 mil toneladas de metal.
Em comunicado, a VM confirmou a suspensão das atividades e informou que irá adotar um regime gradual de paralisação das suas operações, já tendo iniciado negociações com os sindicatos dos trabalhadores das duas unidades. Está previsto que no início de fevereiro serão suspensas as atividades de mineração. A partir de maio, quando tiver usado todo o estoque de concentrado de níquel, desligará o forno em Niquelândia e a refinaria em São Paulo.
Na nota, a VM informa que as operações ficarão desativadas ‘até que sejam restabelecidas as condições de mercado necessárias para a viabilidade do negócio’. Informou que é ‘uma decisão difícil, mas necessária’, após as expressivas quedas do preço do metal. Só em 2015, foi uma redução na ordem de 40%. A divisão de níquel responde por cerca de 15% da geração de receita dos negócios da Votorantim Metais, que é produtora também de alumínio, zinco, polimetálicos e cobre.
Em 2013, por falta de competitividade, a empresa parou de vez a produção da unidade Fortaleza de Minas (MG). A produção do metal no Brasil, que somou em torno de 80 mil toneladas em 2014, é feita por Vale (com operações no Pará), VM, Anglo American (Niquelândia e Barro Alto – GO) e pela Mirabela, que tem mina e metalurgia na Bahia.