Cavando uma saída
Um texto foi enviado ao Congresso em 2013, mas está parado. O setor de mineração representa 8% do PIB e envolve projetos de décadas. A simples expectativa de mudanças em custos conhecidos pode inviabilizar o planejamento de longo prazo. Investimentos em mineração são irreversíveis, intensivos em capital e de longa maturação, afirma Milton Rego, presidente-executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).Ficar todos esses anos discutindo sem chegar a um ponto final inibe investimentos. Estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral(ABPM) feita próxima da época em que o texto chegou ao Legislativo mostrou uma queda de 70 para 30 no número de empresas estrangeiras analisando
o mercado brasileiro.
A alíquota máxima dos royalties deve passar dos atuais 3% para 4%. Para o minério de ferro, principal produto da balança comercial brasileira 7% do total vendido pelo Brasil ao exterior em 2016, ficando em segundo lugar no ranking de produtos mais embarcados , o percentual deve variar entre 1% e 4%, dependendo do preço no mercado internacional. No texto original, enviado pelo governo Dilma Rousseff, a previsão era de aumento para 4%, independente da cotação. Os valores atuais são considerados baixos para padrões internacionais. Na Austrália, um dos nossos maiores concorrentes, eles taxam 30% do lucro das empresas, diz Bruno Rezende, economista da 4E Consultoria.
O argumento é contestado pelo setor, que diz ser preciso considerar o total de impostos que incide sobre a atividade. Nos cálculos das entidades, se a alíquota for de 4%, a carga tributária seria de 29%, a segunda mais alta do mundo, ante 25,6% na Austrália. Falar em alta de taxação neste momento é algo que não queremos, afirma Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A questão dos royalties se tornou um tema polêmico devido à mudança de conjuntura. Quando as discussões começaram, o minério de ferro era cotado próximo a US$ 135 a tonelada, gerando uma arrecadação de R$ 2,4 bilhões em CFEM naquele ano.
Em 2016, com a cotação em US$ 79,43 ao final do ano, o País arrecadou R$ 1,8 bilhão. Os preços estavam em alta, o que permitia rediscutir uma reorganização do setor, diz Cristiane Mancini, economista especializada no setor de mineração. A reestruturação da maneira de cobrar royalties fazia parte de um pacote de reformas na atuação do setor apresentado em 2013. O governo Dilma também propôs alterações ao código de mineração, que regulamenta as questões técnicas da área. O texto completa meio século neste ano e é bem visto pelo empresariado. Uma das mudanças era na forma de liberar licenças de prospecção e exploração.
A previsão é transformar o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) na Agência Nacional de Mineração. A mudança, assim como a dos royalties, deve acontecer ainda neste semestre, como vem sinalizando o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho. A expectativa é que o governo fatie as decisões dos royalties, da agência e do código de mineração, tentando passá-los separadamente, para facilitar a tramitação. Em declaração recente, o ministro citou um acordo com as mineradoras, indicando que elas aceitam pagar mais royalties, desde que saibam quanto vão pagar. É a famosa máxima se impondo à realidade.