A mineração e os ciclos econômicos: devemos ser otimistas?

Se a ciência econômica é feita de ciclos positivos e negativos, a mineração é, com certeza, o segmento que mais sofre com isso, principalmente no Brasil, um país cuja segurança jurídica mineral ainda é bastante frágil.

A mineração brasileira, após anos de altos e baixos, teve, com o Plano Real, um forte impulso, com o desenvolvimento de projetos robustos e, ao mesmo tempo, o início da reconstrução de uma infraestrutura adequada, que estava abandonada por anos a fio. O surgimento da África como uma nova fronteira de exploração mineral e da China como grande potência consumidora, aliada ao desenvolvimento tecnológico, a inovação e a preocupação com a sustentabilidade, trouxe um avanço excepcional à mineração como um todo.

Com isso, a indústria da mineração brasileira teve uma excelente expansão, acompanhando o boom mineral da economia mundial. A partir de 2007, a exportação dos produtos minerais – excetuando o petróleo e o gás – representava o equivalente a 25%, do superávit da balança comercial brasileira. Um dos fatores desse crescimento, que beneficiou a explosão dos preços das commodities, foi a maior demanda pelos produtos minerais, ocasionada pela retomada do crescimento internacional de alguns países como a China. O consumo de minério de ferro foi tão intenso, nesse período, que a exaustão das reservas existentes começou a ocorrer numa rapidez muito grande.

Este ciclo das commodities em alta teve seu pico entre 2008 e 2010, começando a diminuir, no entanto, a partir de 2011 e despencou em 2013/2015. A partir de então, com a demanda em queda, devido a uma crise que levou a sociedade a procurar cada vez menos matérias-primas, bem como, com a convivência com uma exploração que tem que respeitar fortemente o meio ambiente, a mineração entra em mais um ciclo desanimador.

O panorama do setor mineral muda, então, radicalmente e a indústria brasileira vê encolher sua fatia no bolo da mineração global, afastando-se dos picos de produção registrados em passado recente. Com isso, o Brasil vem perdendo participação para seus concorrentes, até em produtos tradicionais, como o minério de ferro. A indústria de transformação brasileira, que em 1965, tinha quatro vezes mais produtividade do que a coreana, e um terço da americana, estagnou. Hoje, os Estados Unidos são cinco vezes mais produtivos do que nós e a Coreia já tem mais que o dobro do rendimento brasileiro.

Essa estagnação se deve, entre outros, ao fato do empresário ter reduzido seu investimento, tornando as pesquisas menos efetivas, sempre à espera da ajuda do Estado. Eles continuam com uma visão muito conservadora, focada apenas em ganhos unilaterais e em curto prazo, e isso torna cada vez mais difícil à criação de um ambiente propício a inovação.

Atualmente são inúmeros os fatores que estão comprometendo o potencial brasileiro no setor mineral, destacando-se a baixa capacitação de mão de obra, a fraca infraestrutura e, principalmente, o pior de tudo, a crise política/econômica e à demora na aprovação do Marco Regulatório da Mineração.

Cabe à mineração brasileira, portanto, sobreviver a esse contexto ruim, assimilando a queda dos preços das commodities no mercado internacional e superando os problemas internos. É possível vencer esses desafios? Sim, focando em investimentos pontuais e em ajustes operacionais, dando tempo ao tempo, como é normal na mineração. Mas é necessário que o Brasil saia da sua eterna inércia.

O que vemos atualmente é que os investidores estão cautelosos com relação à indefinição da lei mineral e a situação política e econômica. Ninguém entra no jogo onde a regra pode mudar a qualquer momento. A falta de clareza gera imprevisibilidade nos negócios, aumenta a dificuldade de se estimar lucros e arrecadação com os royalties, de planejar gastos. Como consequência, menos investimentos externos e internos das empresas, retração do potencial que o país tem em recursos naturais, afetando também a cadeia de suprimento. Questões como dificuldades com licenciamento ambiental, limitações de logística, suspensão de outorgas estão também agravando ainda mais a situação.

Paralelo a tudo isso, o nível de crescimento industrial global continua desaquecido. A expectativa de desenvolvimento da China, principal compradora de minério de ferro brasileiro e segunda maior economia do mundo, está menor do que esperado. A perda de vigor marcou o fim do chamado Superciclo das Commodities, que beneficiou a economia brasileira até 2008. Acreditamos, no entanto, que, apesar de estarmos vivendo um momento singular na indústria brasileira da mineração, isso irá passar em médio prazo.

Temos, portanto, que sair dessa inércia, pois seus reflexos serão sentidos daqui a cinco, dez anos, quando o mercado estiver aquecido, principalmente com a entrada da Índia, um futuro forte mercado demandador de matérias-primas.

Nesse sentido é que o Estado da Bahia, através da CBPM, tem desenvolvido pesquisas em ambientes propícios a novas mineralizações, contribuindo assim para a retomada do novo ciclo de desenvolvimento mineral que está por vir e, nesse sentido, continuamos otimistas em relação ao futuro mineral baiano e brasileiro.

Rafael Avena Neto
Diretor Técnico da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM)

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