Bahia vê no semiárido uma nova rota de desenvolvimento
Em 2004, o estado tinha um PIB de R$ 87 bilhões e era a sexta economia nacional, com 4,1% de participação no total do resultado brasileiro.
Dez anos depois, o conjunto das riquezas produzidas no estado cresceu 135%, chegou a R$ 204 bilhões, mas o estado passou a ser a 7ª economia brasileira, com participação de 3,8% do total, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os números mostram que a economia baiana cresceu – mais do que dobrou de tamanho, porém em uma dinâmica inferior à apresentada em outras regiões do país. Para reverter o quadro, as fichas estão sendo lançadas em direção ao semiárido, que concentra 265 municípios, quase a metade da população, e hoje gera 28% do PIB estadual. Descobertas de riquezas minerais e o potencial para a geração de energia limpa, além do agronegócio, são as apostas do governo baiano para alavancar o desenvolvimento do sertão e, consequentemente, tomar o rumo do crescimento econômico e social.
"A Bahia tem muitas potencialidades. Posso citar algumas bem conhecidas, como a automotiva, calçados, têxtil, celulose e a própria indústria naval, que não vive um bom momento, mas vai retomar o rumo. Entretanto, acho importante destacar possibilidades na região do semiárido", afirma o superintendente de Estudos e Políticas Públicas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), Reinado Sampaio.
As apostas na região vão desde a potencialização de atividades típicas, como a pecuária e a agricultura – com investimentos em inovação e educação, a fim de desenvolver métodos de produção mais eficientes ao desenvolvimento de novos potenciais. "O semiárido tem um longo hiato histórico de convivência com a inovação, o que compromete a competitividade de algumas atividades . Acontece que é possível melhorar, e digo mais, é preciso melhorar pela relevância que tem a região, onde está 46% da população baiana, mas apenas 28% do PIB", diz Sampaio.
Ao mesmo tempo em que mantém a política de atração de investimentos tradicional para o estado, com a oferta de incentivos, como terreno e renúncia fiscal, o superintendente da SDE explica que o governo está formulando um plano de longo prazo, que vai permitir ao estado aproveitar os potenciais de desenvolvimento da região.
MELHORIA DE RENDA – O economista Carlos Danilo, da Superintendência de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), considera que um dos grandes desafios que o estado precisa superar está na melhoria da renda per capita da população. O último dado disponível, de 2013, coloca o estado como o 22° PIB per capita entre as 27 unidades federativas, comum a média de R$ 13,5 mil por habitante. "A Bahia é um estado muito grande, tem uma população significativa, mas uma renda per capita baixa dificulta o desenvolvimento do mercado de consumo de bens finais", pondera.
Carlos Danilo considera ser fundamental dois movimentos: investir na melhoraria da distribuição de renda e nas condições de infraestrutura.
BAQUE NA INDÚSTRIA – O coordenador de finanças públicas e contas regionais da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), João Caetano Santos, explica que o impulso de crescimento na economia baiana verificado no início dos anos 2000 foi impactado por uma redução no ritmo da atividade industrial. "A indústria de transformação foi muito impactada pela crise na economia, desde 2008. Houve um impulso rápido em 2010, mas não foi duradouro", diz ele, ressaltando que a situação se repetiu também nos últimos dois anos.
Segundo João Caetano, o desempenho da indústria é a principal explicação para a perda de participação da Bahia no resultado do PIB nacional nos últimos anos. Ele lembra que houve uma mudança na metodologia de cálculo no país entre 2002 e 2009, mas "no geral, a perspectiva se mantém". Segundo ele, o resultado pode ou não significar uma perda de importância econômica. "É fato que outras regiões cresceram mais, porém, isso não significa que a Bahia não tenha dinamismo econômico", afirma.
O economista acredita que é possível esperar um cenário de recuperação econômica a partir do ano de 2018.
País terá novo ciclo de desenvolvimento – O Brasil está prestes a entrar em um novo ciclo de desenvolvimento, que será caracterizado por dois pilares: o investimento privado, com um papel de maior destaque, e um nível maior de internacionalização de recursos. Quem diz isso é o consultor João Luiz Zuneda, diretor da assessoria de mercado Maxiquim. Para ele, a economia baiana tem grande possibilidade de alcançar papel de destaque nesta nova fase.
"A Bahia é o quarto estado brasileiro que mais recebe investimentos internacionais e tem uma indústria madura, com grandes empresas estruturadas. O que precisa fazer para transformar este potencial em um alicerce para o desenvolvimento sustentável é utilizar esses dois pilares", acredita o consultor.
Zuneda acredita que um dos segredos para o sucesso no novo ciclo de crescimento é modificar a maneira de pensar nas cadeias produtivas. "As cadeias produtivas têm os seus limites. Na própria Bahia, temos o exemplo da Ford, que é uma empresa global e tem seus investimentos no estado. É claro que se pode pensar em atrair fornecedores da montadora e estimular a produção de partes de plástico e borracha no próprio estado. O que não faz sentido é se imaginar que toda a cadeia de produção precise acontecer dentro do território do estado", diz.
Outro exemplo bem baiano de empresa que está conseguindo se posicionar bem, de acordo com as novas regras, é a petroquímica Braskem, aponta o consultor. Nascida na Bahia e com forte presença no estado, a empresa vem trabalhando em um movimento de expansão global, que passa pela implantação de unidades nos Estados Unidos e, mais recentemente, no México, entre outros países.
Infraestrutura precisa melhorar – O movimento de descentralização do desenvolvimento baiano passa pela melhoria nas condições de infraestrutura disponíveis, acredita o economista Vitor Lopes, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA). "É muito preocupante que estejamos vendo grandes obras, fundamentais para a diversificação econômica do estado, paradas", aponta o economista.
Ele lembra que a dobradinha Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e o Porto Sul, em Ilhéus, foi planejada para criar um novo eixo de desenvolvimento no estado. "São investimentos estruturantes, que são fundamentais para a diversificação econômica da Bahia porque vão fomentar atividades fora do eixo central", acredita.
Vitor Lopes lembra ainda que investimentos na área de transporte tendem ainda a potencializar o setor de serviços. "Quando se tem uma boa infraestrutura de transportes é possível desenvolver o setor de serviços logísticos, que é muito importante porque fomenta empresas de pequeno e médio portes", diz.
O superintendente de Estudos e Políticas Públicas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), Reinado Sampaio, lembra que o governo baiano vem se movimentando para tirar do papel a Fiol e o Porto Sul. "Se essas duas obras tivessem seguido o cronograma, teríamos hoje uma nova estrutura logística na Bahia, mas infelizmente houve atrasos por conta de fatores que não dependem do governo estadual", explica. Ele lembra ainda da importância de requalificar o Porto de Aratu.
"Quando se pensa em desenvolvimento, não dá para se pensar em ações pontuais e tópicas. Visão de longo prazo é indispensável. Estamos estruturando a estratégia para darmos um salto", diz Reinaldo Sampaio.
Segundo ele, a SDE deve iniciar em novembro a formulação de um plano para o desenvolvimento da Bahia até 2035. A previsão é que a fase de elaboração do plano dure um ano.