Minério impacta usinas verticalizadas
O minério de ferro caminha para fechar a oitava semana em queda, após ser cotado na sexta-feira a US$ 90 a tonelada no mercado à vista chinês. O menor patamar desde o auge da crise financeira em 2009, quando atingiu o piso de US$ 60, não deve se estender por muito tempo, afirmam analistas, mas a cotação já promete pressionar o balanço das mineradoras e siderúrgicas verticalizadas pelo menos até o fim do ano.
Na siderurgia, a formação de preços está relacionada ao nível de integração das atividades, ou verticalização, desde a exploração do minério de ferro até o beneficiamento do aço. Seja ao subestimar o impacto de menores receitas seja ao superestimar o benefício do menor custo de matérias-primas, as operações de siderúrgicas tendem a piorar daqui em diante, diz o J.P. Morgan.
Para o banco de investimento, a Cia Siderúrgica Nacional (CSN) é a que está mais mal posicionada ante a queda da cotação da commodity. No primeiro semestre, a unidade de mineração da companhia, com receita líquida de R$ 2,34 bilhões, representou 29% da composição de todas as unidades de negócio, que somaram R$ 8,03 bilhões em receita.
Em 2013, a mineração pode representar cerca de 62% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da CSN. Com o minério a US$ 100 por tonelada, em 2012 e 2013 esse resultado poderia cair para R$ 4,2 bilhões e R$ 4,1 bilhões, valores 14% e 37% inferiores ao consenso de mercado, nessa ordem, calcula o J.P. Morgan.
A Usiminas é a mais beneficiada pela queda do custo de minério de ferro, "mas o desaquecimento lá fora pode também levar à queda no preço do aço", alerta Juliana Chu, da Votorantim Corretora. A empresa também implementa investimentos para que, em 2013, metade de seu Ebitda seja gerado pelas operações de mineração, o que pode ofuscar a unidade de siderurgia.
Já a Gerdau, que no fim deste ano será autossuficiente em minério de ferro, continua a ser a mais bem colocada do setor, além de ser o investimento preferido do J.P. Morgan. Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, analistas da corretora Coinvalores, lembram que a empresa utiliza, além do minério de ferro, sucata para a fabricação do aço, o que a torna ainda mais independente do atual cenário.
"A acomodação do crescimento da China e a mudança de foco de investimento do governo, da infraestrutura básica para o ganho de produtividade, trouxeram uma natural desaceleração para a economia daquele país", explica Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora. O gigante asiático baliza o mercado de commodities com sua demanda pelos produtos.
Conforme a Unctad, braço da ONU para o comércio e o desenvolvimento, a China respondeu por 61% do total de 1,115 bilhão de toneladas de minério de ferro comercializadas no mercado internacional no ano passado, 11% a mais que em 2010.
Mesmo com a desaceleração da procura pela matéria-prima por parte da segunda maior economia mundial, "o espaço para uma queda mais forte do preço do minério de ferro é pequeno", diz Corrêa. A opinião é compartilhada pela analista Juliana Chu, da Votorantim Corretora, que estima o piso para este ano entre US$ 90 e US$ 100 por tonelada da principal matéria-prima do aço.
O Citigroup estima que o barateamento do minério de ferro para níveis de preço abaixo de US$ 120 por tonelada – patamar considerado como o custo de produção na China – pode prejudicar o balanço de siderúrgicas brasileiras por até nove meses. Por sua vez, os analistas da Ativa e da Coinvalores projetam que os efeitos se estenderão até o quarto trimestre.
Para a analista da Votorantim, a queda do preço da matéria-prima deve ter impacto especialmente sobre os números dos últimos três meses do ano. "O preço começa a cair agora, mas é preciso considerar os estoques, que são comercializados com o preço antigo", explica.
O preço das bobinas de aço brasileiras possuem prêmio de até 10% sobre as importadas, se considerado o aumento de 4% a 7% praticado pela CSN e a Usiminas, calcula o Citigroup. Mas esta é apenas uma recomposição de preços, diz a Coinvalores.
"As empresas podem voltar atrás no reajuste, mas não no curto prazo. Além disso, a mudança foi para os distribuidores, que são apenas uma parcela dos clientes", afirma a equipe de análise da Coinvalores.
A recuperação do minério de ferro deve ser iniciada no começo de 2013, quando o preço pode chegar de US$ 120 a US$ 130 a tonelada, apontam Piagentini e Barbosa. Em 2011, o pico chegou a US$ 190, com média de US$ 168 no mercado internacional.
Fonte: Valor Econômico