Mineradora Xtrata desiste de comprar Anglo American
A mineradora
Essa decisão é um revés para a Xstrata, que vem crescendo em alta velocidade nos últimos sete anos por meio de uma série de aquisições. A notícia de ontem também é um golpe para o diretor-presidente da Xstrata, Mick Davis, considerado um dos executivos mais eficientes do setor.
A morte do acordo é a mais recente de uma série de tentativas fracassadas de fusões de grande porte no setor, que até recentemente era um dos mais aquecidos da economia mundial em negócios desse tipo.
Davis tinha esperanças de que uma fusão com a Anglo serviria para catapultar a Xstrata para a primeira divisão, criando uma empresa gigante mais capaz de competir com grupos maiores como a
Ele deixou a porta aberta para fazer uma futura oferta pela Anglo, dizendo, em um comunicado, que a justificativa para uma união com a Anglo continuava uma opção e que "transações desta natureza muitas vezes levam tempo e paciência para amadurecer".
Mas um porta-voz da Anglo disse que a idéia de uma fusão na base de 50-50 está agora "morta e enterrada".
John Parker, presidente do conselho da Anglo, disse ao Wall Street Journal que a oferta da Xstrata nunca tinha realmente decolado com os acionistas da Anglo. "A diferença nos valores era tão ampla, e a combinação estratégica decerto não parecia extremamente atraente", disse.
Pela proposta da Xstrata, os acionistas de cada empresa ficariam com 50% da empresa resultante, sem que dinheiro mudasse de mãos. Mas em junho o conselho da Anglo rejeitou essa proposta e não quis envolver-se com a Xstrata.
Acionistas da Anglo expressaram interesse, mas queriam um valor mais alto por um acordo que viam como uma tentativa disfarçada de absorver a empresa. Com um prazo até a próxima terça-feira, fixado pelas autoridades britânicas para fazer uma oferta formal ou então retirar a proposta, a Xstrata informou, ontem, que está abandonando a iniciativa.
Alguns acionistas da Xstrata apoiaram a decisão. Ao resistir à pressão por um preço mais alto, "Mike está se mantendo firme em seus princípios de avaliação, o que é uma coisa boa", disse Ivor Pether, administrador de fundos da
Mas com essa decisão, esta é a terceira vez seguida que as ambições de Davis para fechar negócios foram frustradas, depois de tentativas malsucedidas de vender a empresa para a Vale no ano passado e então de comprar a mineradora de platina Lonmin PLC alguns meses depois.
Isso desperta dúvidas sobre o futuro de uma empresa cujos acionistas já foram ricamente recompensados pelas habilidades de Davis de fazer acordos, mas que vem sendo atingida pela escassez de crédito no mercado e a desaceleração na atividade de fusões na indústria da mineração.
"Sua estratégia para o grupo se baseia em um conjunto de ativos que exigem financiamento contínuo, e creio que esse modelo vai ser difícil" disse Mervyn Douglas, administrador de carteira na Aviva Investors, grande acionista da Anglo que também tem uma grande participação na Xstrata.
"É como qualquer modelo impulsionado puramente pelas aquisições, em qualquer setor – o que você faz quando o acesso ao financiamento fica difícil porque o custo está muito mais alto?"
Davis, um sul-africano de estilo aventureiro, foi um dos principais proponentes da noção de um "superciclo" das commodities – uma prolongada fase de alta que duraria anos, movida pelo voraz apetite da China pelas matérias-primas para impulsionar sua revolução industrial.
Mas desde a recessão, as fusões e aquisições no setor ficaram mais difíceis. O crédito bancário está escasso e os ativos de tamanho médio, focados em uma única commodity, que foram arrematados por rivais maiores durante os anos de alta, estão mais raros. Um símbolo desse ambiente novo e mais difícil foi o fracasso da oferta da BHP Billiton para adquirir a Rio Tinto no ano passado.
Investidores britânicos já tinham passado a confiar no discernimento de Davis, e o apoiaram lealmente enquanto expandiu a Xstrata, que se transformou de um "peixe pequeno", com valor de mercado de US$ 500 milhões, numa gigante da mineração de US$ 90 bilhões. No entanto, a expansão comandada por Davis deixou a Xstrata com uma montanha de dívidas de US$ 16,3 bilhões. Isso foi sustentável enquanto o preço dos metais – e da ação da Xstrata – continuaram altos.
Mas quando a recessão começou, as commodities caíram até 50% em relação aos seus níveis mais altos. Por fim à crise financeira obrigou a Xstrata a abandonar seu plano de comprar a Lonmin, embora continue dona de uma participação de 25%. Ela também teve de fazer uma emissão de direitos de subscrição para reforçar suas finanças.
Davis dirigiu-se ao conselho da Anglo em 17 de junho, pedindo para discutir sua proposta para uma fusão sem pagamento extra, entre duas empresas iguais. A Anglo, há muito tempo um ícone da mineração com profundas raízes na sociedade britânica e na sul-africana, estava com desempenho muito abaixo das rivais. Havia murmúrios de descontentamento entre os acionistas, decepcionados com sua diretora-presidente, a americana Cynthia Carroll, e a decisão dela, em fevereiro, de reduzir os dividendos da Anglo.
O conselho da Anglo rejeitou a oferta e se recusou a envolver-se com Davis. Alguns de seus acionistas expressaram interesse em uma fusão, mas queriam que a Xstrata melhorasse a oferta.
Davis recusou.
Em agosto, Parker, novo presidente do conselho da Anglo, deu a Carroll seu apoio total e descartou a oferta da Xstrata. Ele convenceu os acionistas da Anglo a dar mais tempo à diretoria, para que esta pudesse dar uma virada na empresa e executar um programa de corte de custos de US$ 2 bilhões. Eles acabaram convencidos.
Analistas disseram que, com a Xstrata fora de cena – por enquanto – todos os olhos estão voltados para o presidente do conselho da Anglo. "A pressão está agora sobre Parker para realizar as prometidas mudanças na empresa", escreveu Michael Rawlinson, analista de mineração na Liberum Capital.
Ele disse que os desafios imediatos que a empresa enfrenta são refinanciar suas divisões de platina e diamantes, resolver problemas de licenças em sua grande mina de minério de ferro no Brasil, a Minas Rio, e cumprir suas promessas de redução de custos.
John disse estar confiante de que a ação da Anglo vai se recuperar logo. "Gradualmente, o valor significativo dos nossos ativos (…) vai se refletir no preço da nossa ação", disse ele na entrevista. "É um valor muito claro que podemos aproveitar."
Fonte: Valor